
Com cerca de 20 anos o ainda estudante de arquitectura Diogo Seixas Lopes (1972-2016), trilhava já um percurso de participação cívica e intervenção cultural que viria a ser indissociável da sua obra como arquitecto.
Em meados dos anos 90 começou por escrever para o semanário Já, fundado por Miguel Portas e Nuno Ramos de Almeida, e depois para as revistas Alice e Premiére, primeiro sobre música e depois sobre cinema, arte e cultura.
Ao discurso punk rock, humorista e acutilante vão se juntando um conjunto de leituras disciplinares sobre a contemporaneidade, onde a arquitectura assume um papel cada vez mais central. Em 1999 é um dos fundadores da revista Prototypo e o editor dos nove números publicados até 2004. Paralelamente, no ano 2000, inicia a sua participação no Jornal Arquitectos, com o qual colaborará directamente entre 2009 e 2012, fazendo parte do seu conselho editorial.
Depois de um período de escrita intensa, em 2004 funda com Patrícia Barbas o atelier Barbas Lopes e concentra-se na sua actividade profissional enquanto arquitecto, vendo o seu trabalho ser progressivamente reconhecido, sobretudo, a partir dos projectos para o Teatro Thalia, realizado em co-autoria com Gonçalo Byrme, e para o edifício FPM41, torre recentemente concluída junto ao Saldanha, em Lisboa.
Depois da morte de Miguel Portas e em resposta às políticas de austeridade impostas pela troika, o grupo de amigos que tinha colaborado no Já volta a reunir-se e cria o jornal de parede O Espelho e Seixas Lopes participa em quatro dos seis números editados, entre 2012 e 2014.
Seixas Lopes construiu assim um percurso entre teoria e prática, investigação e profissão, pensamento crítico e participação política. O Arquivo: Diogo Seixas Lopes agora editado pela Dafne pretende reunir de forma sistemática a obra escrita do arquitecto, crítico, editor, argumentista, realizador e corador num único volume, com 856 páginas. O volume exaustivo de textos, ainda assim quase infinitamente incompleto, dadas as múltiplas conferências, comunicações e intervenções, impossíveis de localizar ou transcrever, demonstram o folgo, a coragem e a dimensão do pensamento de Seixas Lopes.
Não se trata por isso de um “tijolo” cerâmico e poroso que o tempo acabará por dissolver, mas de um cunhal em pedra maciça que servirá de suporte para compreender o caminho da arquitectura e cultura portuguesas nas últimas três décadas e para as projectar não só na sua dimensão técnica e artística, como também cultural e social.