Anjos, Lisboa, 2014

Tigre Papel, Lisboa, 2016

Liverpool, Lisboa, 2009

Paredes, Alenquer, 2017

Zaire, Lisboa, 2011

Valmor, Lisboa, 2017

Escoural, Lisboa, 2010

Av. E.U.A., Lisboa, 2016

Moçambique, Lisboa, 2010

Expo, Lisboa, 2010

Ajuda, Lisboa, 2007

Karmel, Torres Vedras, 2010

Eira da Palma, Tavira, 2009

1 Desde 2007 que tenho vindo a construir um caminho de convergência entre investigação e prática profissional. Enquanto investigador doutorado pela FAUP, tenho trabalhado no âmbito da história da arquitectura portuguesa e, mais recentemente, sobre os processos de participação e os movimentos sociais do pós-25 de Abril. A expressão dos meus projectos tem resultado de uma pesquisa em torno da identidade da arquitectura portuguesa e de um equilíbrio entre o desenho do lugar, a construção de um modo de habitar e uma ideia de conforto.

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A periferia (im)perfeita

Precipito-me a escrever antes ainda de ter terminado a leitura mas o impulso é mais forte que a razão, tal como a vontade da partilha.

Cruzei-me, no momento certo, com “A periferia perfeita. Pós-modernidade na Arquitectura Portuguesa. Anos 1960-1980”, da autoria de Jorge Figueira, arquitecto e professor na universidade de Coimbra.

As palavras do autor convidam a uma viagem pela história da arquitectura na segunda metade do século XX. Uma viagem síntese, e não sintética, uma viagem crítica, teórica e desassombrada.

Em poucas palavras Jorge Figueira guia-nos por entre os conceitos de Zevi, Benevolo, e Rogers umas vezes reescrevendo outras revendo e reinterpretando a história da arquitectura portuguesa (diferente de arquitectura em Portugal) a partir da obra de Távora, Siza, entre outros.

Este é o momento certo para falar aqui deste livro. O contexto político e social voltou a mudar, e se em 2014 o autor questionava o sentido de falar de Portugal como uma periferia perfeita, depois de já o ter defendido também em 2009 aquando da defesa da sua tese de doutoramento, parece-me que em 2017 a expressão ganha uma dimensão ainda mais profunda. A pertinência que encontro no título é a principal divergência que leio nas palavras do autor. A condição periférica teve sempre espaço para a perfeição. Mesmo nas circunstâncias de uma ditadura cruel existiram bolsas de perfeição, rupturas silenciosas e experimentalismos que anteviram e prepararam a revolução. Dentro de um contexto político e social miserável encontramos caminhos de sentido contrário que serviram de base para o desenvolvimento do país depois do 25 de Abril.

Na arquitectura portuguesa essa base pode ser encontrada na obra de Fernando Távora e na sua revisão do Moderno, através da construção de uma síntese entre os pressupostos racionalistas, o “projecto orgânico” de Zevi e a “continuidade” de Rogers. Estabelecendo ele próprio novas ligações entre a história da arquitectura portuguesa e a contemporaneidade.

Neste processo lemos uma aproximação natural ao lugar, às pessoas e às questões sociais que em 1974 ganham um novo sentido, nomeadamente através da luta pelo direito à habitação, parcialmente experimentado e conquistado nas operações SAAL, e que terá depois grande importância na obra de Álvaro Siza. Em contraponto observamos o crescimento do projecto neo-liberal de Margaret Thatcher acompanhado por uma crescente influência anglo-saxónica que acaba por derivar numa terceira via sem saída.

Num momento em que a diversos níveis, Portugal é novamente uma “periferia perfeita” e que a solução governativa encontrada é uma verdadeira alternativa para a reconstrução do estado social, é importante convocar novamente os arquitectos para o debate sobre a cidade. A “periferia perfeita” já não é a dos anos 90, dos concursos públicos ou da expo 98, também já não é a do Euro 2004 ou da Parque Escolar. Na “periferia” agora o “problema” é a Reabilitação, sendo a responsabilidade dos arquitectos acrescida, sobretudo, depois dos resultados das experiências anteriores. Os arquitectos não têm mais museus para fazer na “periferia” mas têm a responsabilidade de estar presentes na consolidação das cidades, na preservação do património como também na discussão dos fenómenos em torno do turismo.

A realidade é esta, não é perfeita como aquela outrora sonhada mas o que conta é a construção do caminho, o processo, não tanto o resultado mais ou menos (im)pefeito.