Protótipo
O protótipo de unidade familiar evolutivo apresentado propõe um volume baixo, de um piso e cobertura inclinada. Desenvolve-se no sentido longitudinal a partir de uma parede de blocos perfurados e de um pátio centralizado. A parede e o pátio estabelecem dois níveis de ligação e relação com o exterior, permitindo uma gestão eficaz do número de vãos e conferindo ao modelo uma escala reduzida, para um habitar em proximidade, ajustado ao contexto angolano.
O desenho de um espaço de estar central – pátio exterior e sala interior – estrutura duas áreas e dois programas distintos. Uma área mais encerrada de dormitórios e uma área comum com espaços de apoio. A área semi-privada é constituída por três dormitórios dimensionados para apropriações variáveis. A área comum é caracterizada por diferentes relações de proximidade com o exterior. As áreas de apoio, colocadas nas extremidades do edifício, permitem a extensão das suas funções, de acordo com o modo de habitar local. A evolução do protótipo pressupõe adicionar um dormitório e um espaço de apoio (lavandaria+arrumos).
O protótipo apresenta uma geometria simples, facilmente compreendida e replicável de acordo com as práticas correntes. Para as paredes elege-se um único material, à cor natural, presente na arquitectura local, autoportante, pré-fabricado e de baixo custo (BTC- blocos de terra compactada), obtendo-se uma construção económica, com um sistema construtivo simplificado, de fácil execução, reduzindo o tempo da obra. Para as portas, portadas, caixilhos e barrotes da cobertura escolhe-se a madeira. Sobre os barrotes colocam-se placas de OSB impermeabilizadas com telas betuminosas. A ligação entre os dois materiais – BTC e Madeira – permite a definição de uma ideia de conforto e de um ambiente amável.
Numa lógica global de economia de meios, a cobertura inclinada e a caleira de pavimento, junto à parede de blocos perfurados, permitem um aproveitamento sustentável das águas pluviais e o seu encaminhamento para depósitos localizados sobre as áreas de apoio e a recolha e condução dos esgotos, garantindo o saneamento básico. A parede de blocos perfurados e o pátio garantem uma ventilação natural transversal, complementar ao eixo de ventilação longitudinal (portas de acesso ao exterior). Para a fachada ventilada é proposta uma cortina impermeável, para protecção da área comum.
A simplicidade do desenho do modelo proposto e a contenção nos detalhes construtivos, representam uma solução eficaz, que possibilita uma construção faseada e evolutiva e a sua apropriação no sentido da autoconstrução e de uma arquitectura participada.
Tecido Urbano
Os esquemas de tecido urbano propostos representam um conjunto de ideias que se pretendem próximas da realidade de Luanda, adaptáveis de acordo com necessidades específicas e no sentido de uma relação de compromisso entre projecto e práxis.
As duas soluções de implantação do protótipo no lote pretendem privilegiar uma escala de proximidade e diferentes configurações de espaços exteriores públicos e comunitários, propondo um processo de transição para a urbanidade ao nível da gestão da coisa comum.
A rua é pensada como um espaço de estar e de interacção, próximo do interior da casa. Foi dada prioridade a ruas estreitas, pedonais, com casas a construir a frente de rua ou pátios abertos para o exterior.
Os logradouros são espaços semi-privados, que promovem o encontro e podem ser geridos de acordo com o número de famílias, o tipo de uso e as necessidades funcionais que estes implicam.
As vias automóveis são reduzidas a um número mínimo essencial ao funcionamento da comunidade e à ligação entre os quarteirões e o tecido urbano envolvente. O estacionamento é localizado em pontos estratégicos dos quarteirões.
Os quarteirões são formados por duas bandas de dez lotes, interrompidas por ruas pedonais, para acesso a serviços e estacionamento. A sua dimensão prevê a integração de equipamentos e a instalação de outros programas complementares ao habitacional. São introduzidas pequenas variações na cota dos muros de limite do lote, no remate dos quarteirões, de modo a abrir o novo tecido urbano ao exterior pré-existente ou futuro.