O Projecto Ruptura Silenciosa, que decorreu na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto entre 2010 e 2013, estudou a proximidade entre os movimentos de renovação no cinema e na arquitectura que corporizaram uma nova visão do espaço e da cidade, marcados pelos acontecimentos sociais, culturais e políticos da década de 60 e inícios de 70, em Portugal mas também internacionalmente (Pop Art, Pós-modernismo, Nouvelle Vague, Neo- realismo, etc). A investigação foi feita sobre os objectos arquitectónicos e cinematográficos que estabeleceram uma ruptura silenciosa, dando um sinal das convulsões na sociedade portuguesa que levaram à revolução social e política de 1974 que fez capitular a ditadura. Cineastas e arquitectos circulavam nos mesmos meios e discutiam como as duas disciplinas se podiam influenciar mutuamente, não apenas culturalmente, mas como processos de projecto que lidam com o uso do espaço. Provavelmente como nenhum outro método de visualização, as imagens em movimento conseguem representar os espaços arquitectónicos como espaços “vividos” e “habitados”. O cinema é muitas vezes encarado como um meio que, através da relação espaço/tempo, da mise-en-scène, dos personagens e do argumento, pode circunscrever importantes debates sobre a arquitectura e a vida urbana. Foi defendido que as imagens em movimento têm a capacidade de criar um “sentido de lugar”, fenómeno não só relacionado com a matriz da realidade física do espaço que é filmado, mas também com a relação vivencial que estabelecemos com a luz, a cor, o som, a música e a estrutura narrativa.
Apesar de ser objecto de investigação há já algum tempo, essa investigação estava, no entanto, dispersa e foi necessário aglutinar práticas e trocar experiências sobre as diferentes formas de abordar o tema, num fórum de discussão multidisciplinar sobre a metodologia a adoptar no estudo de duas formas de arte próximas, mas distintas. A conexão entre a arquitectura e o cinema revelou-se, assim, um campo rico para a pesquisa académica. O Projecto Ruptura Silenciosa procurou sistematizar as afinidades em torno da arquitectura e do cinema, de forma a construir uma base de trabalho comum para a colaboração entre os diferentes parceiros envolvidos. Compreendeu uma componente de investigação teórica, baseada na escrita de artigos e dissertações de mestrado e doutoramento, bem como na organização de conferências, simpósios e seminários de âmbito internacional, que contribuíram de forma significativa para a formação pós-graduada e especializações na área dos estudos críticos sobre arquitectura e cinema; compreendeu também uma componente de investigação prática ou experimental, procurando reflexões inovadoras sob a forma de objectos multimédia (documentários, curtas- metragens, base de dados de texto, vídeo, imagem e som).
Ruptura Silenciosa, projecto com a duração de três anos, foi um fórum para investigadores que exploraram a relação entre a história do espaço urbano, da arquitectura e das imagens em movimento em Portugal. O Projecto propôs aos participantes a oportunidade de partilhar reflexões a partir de um discurso fílmico sobre a arquitectura assim como uma leitura espacial do cinema, cruzando as fronteiras das duas disciplinas.