A tese tem como tema os princípios de desenho e forma da arquitectura portuguesa no tempo longo. No âmbito da arquitectura religiosa, as igrejas de três naves são eleitas como matéria de estudo central para investigar a transformação e difusão dos modelos arquitectónicos, a viagem das formas e a formação de um saber de fazer, entre finais do século XI e meados do século XVI.
A metodologia seguida define um modo de (voltar a) ver o que já é conhecido, lançando outros pontos de vista sobre os edifícios, através: de uma pesquisa documental própria, centrada numa aproximação certeira a épocas passadas e ao modo como foram vistas, descritas e caracterizadas as obras; da produção de novos desenhos em suporte digital, decisivos para aprofundar o método de “ver pelo desenho”; e através da análise das fotografias efectuadas pela DGEMN antes, durante e depois das suas intervenções de restauro. A investigação sobre a transformação dos modelos de três naves realizada com base na observação e caracterização dos programas construtivos, dos desenhos e dos traçados revelou a necessidade de considerar também as circunstâncias em que esses modelos foram construídos e o contexto em que posteriormente foram alterados, nesse sentido, observam-se pontualmente: os vestígios dos edifícios anteriores às reconstruções românicas e góticas; as transformações modernas dos séculos XVI, XVII e XVIII; as intervenções de restauro da DGEMN; e as escavações arqueológicas até à data disponíveis.
O corpo da tese divide-se em quatro pontos: o primeiro concentra-se no estudo da reforma beneditina e na reconstrução de quatro obras essenciais, procurando compreender a implementação do modelo beneditino em Portugal entre os séculos XII e XIII e as transformações espaciais dele decorrentes; o segundo estuda a ligação entre os modelos beneditinos e a reconstrução de três sés românicas, procurando estabelecer novas intersecções entre igrejas com programas construtivos diferentes; no terceiro são repensadas as fronteiras estilísticas entre o românico e o gótico e as relações arquitectónicas entre ordens religiosas, com base na permanência dos modelos românicos muito para além do século XII e no prolongamento do gótico até ao século XVI; no quarto ponto realiza-se uma leitura de conjunto sobre a difusão do modelo de referente basilical, explorando a dicotomia entre continuidade e inovação.
As considerações finais apontam para a identificação de uma segunda linha coerente, paralela à construção dos grandes monumentos nacionais, constituída por igrejas de três naves de escala média que, por via do desenho, permitiram estabelecer uma leitura cruzada com as sés e relacionar igrejas beneditinas, mendicantes e paroquiais, construídas entre os séculos XII e XVI, aproximando obras aparentemente muito diferentes entre si. A comparação e sobreposição de desenhos revelaram as relações de escala e proporção existentes entre os edifícios em estudo; apontaram hipóteses sobre os módulos-base e os traçados que definem a relação entre as partes; sublinharam as soluções encontradas por cada edifício para transformar a sua forma e espacialidade ao nível da ampliação ou redução da sua planimetria e composição do corte basilical; e salientaram as obras de excepção que qualificaram os seus programas construtivos, através do desenvolvimento do espaço da cabeceira e do transepto, da composição da sua fachada principal e de um desenvolvimento especial do ornamento arquitectónico. Deste modo, sem procurar uma unidade, define-se um caminho de investigação em torno da especificidade da arquitectura portuguesa no tempo longo, tendo em conta a diversidade da sua expressão.