No passado mês de Novembro e após a inauguração no Museu de Serralves da exposição comemorativa dos 40 anos, o processo SAAL voltou a estar no centro da discussão, desta vez, num Colóquio Internacional organizado pelo Centro de Estudos Sociais e pelo Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra.
Com o objectivo de pensar e debater os desafios colocados pela questão da habitação, bem como a sua relação de proximidade com a arquitetura, durante dois dias, realizaram-se cerca de quarenta comunicações com o mote “O SAAL e a Arquitectura: Portuguesa, Autónoma, Inclusiva e Transrelacional”. A partir destes quatro pontos de vista complementares propunha-se uma reflexão sobre a possibilidade de recorrer na contemporaneidade aos ensinamentos deste processo histórico, tendo em conta as particularidades do contexto actual.
O número de comunicações apresentadas e o entusiasmo revelado por todos os participantes do Colóquio, talvez alimentados pela paixão daqueles que viveram aquele período e pela curiosidade inquieta dos outros que gostariam de o ter vivido, revelam o interesse que o SAAL ainda desperta e a importância do tema em discussão. Porém, e de forma relativamente inesperada, a exposição de Serralves e o seu programa acabaram por estar, talvez, demasiado “presentes”. Menos inesperada foi a atenção dada à experiência do SAAL/Norte e sobretudo, ao projecto de Álvaro Siza para o bairro da Bouça, que acabou por reduzir as hipóteses de explorar e discutir a diversidade e os resultados das soluções experimentadas noutros locais.
Em todo o caso, algumas comunicações procuraram mostrar operações menos estudadas, encontrando-se algumas delas ainda em desenvolvimento, sobretudo, devido à resistência das associações de moradores que procuram concluir as diferentes fases dos projectos ou construir novos equipamentos. Exemplo disso mesmo são as operações do bairro da Portela-Outurela e do bairro do Pego Longo, no conselho de Sintra, esta última ainda generosamente coordenada pelo arquitecto Bartolomeu Costa Cabral.
A visita ao bairro da Relvinha, em Coimbra, foi claramente um dos pontos mais altos do Congresso. Ou melhor, o ponto mais alto foi sem dúvida o contacto com os moradores, com as suas histórias e com a luta de uma vida pelo direito ao lugar e à habitação.
Inebriados pelos sonhos da revolução, quisemos encontrar em cada uma daquelas pessoas uma hipótese de reviver no presente uma história que parece estar cada vez mais distorcida e diluída numa realidade, onde se verifica que o princípio da organização social, a partir do qual os moradores com os seus próprios recursos lutaram pela sua autonomia, praticamente desapareceu.
Na Relvinha encontrámos as pessoas que não estão representadas na exposição de Serralves, encontrámos a alegria dos objectivos conquistados e a resistência necessária para ainda alcançar os desafios do futuro e recordámos as palavras de António Jacinto sobre os desafios que os moradores da Associação de Moradores 18 de Maio, também já estão a enfrentar. Para estas pessoas o despacho de 1976 acabou por ser apenas mais uma dificuldade entre muitas. Para elas o SAAL ainda não acabou! As expropriações, os empréstimos e o futuro sobre os direitos das casas e dos terrenos dos bairros são ainda uma realidade incerta. Desejamos que as comemorações dos 40 anos do jornal O Bairro e da A. M. 18 de Maio sejam uma oportunidade para retomar estas questões e quem sabe para estabelecer novas plataformas de contacto entre os moradores e as diversas associações.
Muitos parabéns ao jornal O Bairro, a todas as pessoas que tornam possível a sua existência e a todos aqueles que 40 anos depois ainda acreditam e lutam por um sonho (i)repetível.