A Sé do Funchal Primaz das Índias.
Forma e desenho da obra manuelina
Nos estudos de arquitectura manuelina do século XX, a Sé do Funchal é referida mas não ocupa um lugar de destaque. Mário Chicó considera o seu partido arquitectónico de «tipo corrente» e as suas dimensões «modestas», tal como a Sé da Guarda e outras catedrais construídas «entre os séculos XIV e o fim da época manuelina».1 Na opinião de Paulo Pereira estamos perante a «manutenção dos antigos esquemas planimétricos e de volumes».2
A disposição é a de um tipo muito comum identificado por Mário Chicó: igrejas de três naves «cortadas por um transepto saliente, amplo e iluminado» que se distinguem pela originalidade da cabeceira e «adquirem características especiais devido às proporções das naves e à disposição da cobertura».3
Pedro Dias releva alguns aspectos particulares da Sé do Funchal: a amplitude e elegância da igreja, os tectos de alfarge, a torre «com um elegante coruchéu», «as arcadas longitudinais com pilares finíssimos» e a complexidade do desenho da abóbada da capela-mor, de cruzaria recta, «com algumas alterações relativamente aos esquemas comuns».4
Seria necessário pensar o significado da obra da Sé como obra comum, mas não no sentido de obra corrente. Uma grande clareza e propriedade de desenho da forma, matéria e técnica de construção dão significado à circunstância da sua edificação como nova sede Primaz. Na sua simplicidade ponderada, fina e eloquente, a Sé encerra uma lição de cultura arquitectónica. Cultura de D. Manuel, sapiens architectus, tanto quanto «bom saber» dos homens5 da Ilha da Madeira.
Marta Maria Peters Arriscado de Oliveira e Ricardo Santos
Universidade do Porto. Faculdade de Arquitectura. Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo (CEAU)